quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Saudades da ditadura?


Sílvio Lanna

O país assistiu perplexo às imagens da repressão policial contra a manifestação de grupos civis em Brasília ontem.

Foram investidas da cavalaria, cachorros, pancadaria com cassetetes, jatos de spray de pimenta, tiros com balas de borracha, bombas de efeito moral, enfim, todo o aparato policial que se destina a neutralizar tumultos que envolvam riscos à integridade física e/ou material da população.

Vimos também um coronel se atracando fisicamente com um manifestante, ataque da guarnição aos repórteres que cobriam o evento e agressões praticadas sobre pessoas desarmadas e dominadas (até porque caídas no chão). Ao final de tudo, as inexoráveis entrevistas dos representantes da polícia e da secretaria de segurança justificando as agressões.

O porta voz da instituição, mal disfarçando a irritação em dar explicações, taxou de "normal" a reação, uma vez que os policiais estariam sob ameaça e, ainda, que os manifestantes teriam quebrado o acordo que previa os locais onde poderiam se manifestar.

Ou seja, foi legítima defesa.

Para quem assistiu pessoalmente ou por imagens de TV os atos de repressão ocorridos à época da ditadura militar, a lembrança é instantânea. Seja pela simbologia dos fatos, seja pela estratégia da polícia, seja pela truculência, por instantes pareceu-me haver retrocedido no tempo.

Não podem prevalecer os discursos mal intencionados que, simulando justa indignação, afirmam ser necessário o uso da força em determinadas situações de risco iminente. O que se viu em Brasília não foi um palco de guerra, não foram manifestantes atentando contra a segurança de cidadãos, não foi violência combatida com violência.

Foi violência, só, unilateral.

E foi aplicada contra manifestantes e telespectadores, em um recado que me pareceu originário de uma só pessoa, que ao determinar a repressão tinha realmente motivos para estar irritado.

O sr. Governador de Brasília parece ter usado de sua (ainda) autoridade para vingar-se. E vingou-se. Deve estar um pouco mais aliviado agora.

E com relação a ele, causa de tudo o que ocorreu, parece ter sido perdoado pelo DEM, que havia marcado para a segunda-feira passada decidir-se sobre sua expulsão ou não dos quadros. Não expulsou e também não disse o que fará. Aparentemente valeu-se dos panos quentes (que deviam estar sob a guarda de Sarney), sempre úteis para situações da espécie.

Os fatos ocorridos ontem passam para os registros históricos e serão certamente relembrados futuramente, como todos os registros dignos de nota. Tais ocorrências precisam mesmo ser trazidas à tona constantemente, para que incomodem, agridam visualmente, promovam indignação e incitem protestos. Tudo isto para nos prevenirmos contra alguns saudosistas que ainda permanecem de pé, ativos, e, muitas vezes, produzindo discursos nas tribunas e editoriais jornalísticos.

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