“Bajo
la piel del lobo”, mais uma produção com o selo Netflix, lançada em julho de 2018. É uma película
espanhola com direção e roteiro de Samu Fuentes e um pequeno elenco,
principalmente composto por Mario Casas, Irene Escolar
e Ruth Díaz.
O
filme é simples, cru, objetivo, mas excelente.
Econômico
no elenco, é mais sovina nos diálogos, sendo quase um filme mudo. Também não se
preocupa em localizar geograficamente a trama e tampouco em estabelecer um
momento histórico. O protagonista usa uma carabina aparentemente fabricada no
início do século passado. Só isto.
Nem
nome os personagens têm.
Sob
a simplicidade do roteiro escondem-se uma precisa direção e uma magnífica fotografia.
Esta, dispõe-se em duas vertentes:
- A
exuberante paisagem de montanhas geladas e trilhas rústicas.
- A
modéstia de uma casa de montanha, despojada e simples, mas emoldurada por uma sofisticada iluminação,
gera momentos fotográficos de intensa beleza. É elegante no ambiente tosco, é o
nada produzindo o tudo. Extraordinário.
O
personagem principal é um misto de bestialidade e delicadeza. É ogro, mas é
também homem. Quase não fala, mas sabe olhar, bufar, respirar com espalhafato e
comer como um animal. Sabe também fazer sexo sem cerimônia e tão instintivo
quanto o dos cabritos que cria.
O filme
nos faz concluir que o cinema espanhol não se resume a Saura e a Almodóvar. Há
também Samu Fuentes, até então desconhecido pela maioria.
É inquietante
– talvez seja este o adjetivo que mais se adapta ao filme. Ele desconstrói um
ideário comum a grande parte de nós, espremidos nas metrópoles e ansiosos por
momentos de pacata solidão em geladas e idílicas paisagens.
Em
um paraíso romântico também há os contrastes e os dramas. A felicidade não está
no local, mas no interior do homem.
Não
é filme para todos os gostos, mas certamente o é para os mais exigentes e que
buscam no exercício da criatividade e do talento o maior fundamento da cultura.
Experimente o trailler oficial:
https://youtu.be/hB83Blf5LIw