É o vento frio do inverno que incendeia corações.
É do silêncio das bocas caladas que brotam os discursos amorosos.
É dos gestos imóveis que procedem as melhores carícias.
É do pensamento que surge a ação.
É da morte que nasce a vida.
A vida, em síntese, é um exercício da mais pura dialética,
confrontando o novo e o velho para que se produzam as grandes conquistas. O
confronto das idéias é a gênese da mais profícua inteligência e seu admirável
poder de disseminação por entre os de boa-fé. Mas só entre os de boa-fé.
Dialética que é, também convive com a imbecilidade daninha que
busca sugar sua seiva para transformá-la em proposituras estapafúrdias e
vazias. Mas o bem sempre vence. E a inteligência também. Porém não me refiro
àquela denominada “artificial”, que não é mais que um produto de consumo. Não
contém em si o poder apocalíptico que lhe tem sido atribuído.
Não, não mesmo!
Somos maiores que ela.
E somos mais fortes!
Somos divinos!
Neste mundo em que vivemos, já tão gasto pelo uso – pelo mau uso,
diga-se – ainda opomos o novo e o velho não como complementaridades, mas como
antagonistas de uma comédia burlesca que insistimos em encenar.
Brotam nas redes – as sociais – seres caricatos à semelhança dos
geniais personagens de Pasolini em Decameron ou nos impagáveis Contos de
Canterbury. Mas sem nenhuma graça ao inverso daqueles, porque frutos da
ausência da dialética e do autêntico esforço mental. Tais produtos nem mesmo se
prestam à purgação da anátema cristã, como os geniais houveram merecido.
Ao redor de nós mesmos gira esse mundo, lar nosso, muitas vezes
autofágico (que o diga a mãe natureza) e tantas vezes caótico porque perdido em
si mesmo. Neste reino do hedonismo, o que fazer com a razão?
E com as emoções, quais ainda nos restam?