domingo, 31 de março de 2019

IÊMEN: UM WALKING DEAD SEM AUDIÊNCIA



        Muitos nunca ouviram falar no Iêmen, um paupérrimo país que divisa com Arábia Saudita e Oman por terra, vizinhos riquíssimos, inundados de petrodólares.   Atravessando o Golfo de Aden, bem ali no chifre da África, temos a Somália e Eritréia, duas nações que, somadas ao Iêmen, representam uma das porções mais atrasadas e miseráveis do planeta, constantemente sacudidas por revoltas, mortes, doenças e subnutrição.




         É o traçado da geopolítica mundial: frequentemente os famintos são ladeados por aqueles que se chafurdam no dólar e no ouro.

         O Iêmen tem hoje algo próximo dos 30 milhões de habitantes, consumidos pela guerra, pela pobreza e pela violência.

         Na luta pelo poder, ambos muçulmanos, se digladiam os  houthis (minoria xiita) e  a maioria constituída por outras origens étnicas, mas todos filhos do Islã, seguidores de Allah.

         Como sempre ocorre, as partes em um conflito obtêm apoio bélico e financeiro de potências mundiais sempre desejosas de ampliar suas áreas de atuação no planeta.

         No caso iemenita, Arábia Saudita, EUA. França e Reino Unido, em maior ou menor grau, apoiam o governo estabelecido. Já os rebeldes houthis encontram apoio em seus irmãos xiitas do Irã.

         No fundo, é uma guerra de poder entre agentes externos que pouco se interessam pela miséria humana, mantendo sua atenção somente em questões de dominação territorial ou em riquezas como o petróleo, ouro ou diamantes.

         A tragédia dos civis pouco importa: são legiões de esfomeados e doentes que vivem uma realidade semelhante à ocorrida no seriado Walking Dead. No Iêmen (como em outros locais do planeta), milhares ou milhões de pessoas vagam sem destino certo, tentando fugir do suplício que outros lhe impõem. Deixam de ser “gente” para se tornarem “refugiados”, inflando estatísticas e amealhando o ódio dos favorecidos pela sorte por serem residentes na França, na Alemanha ou no Brasil.

         “Refugiados” não são tratados como “gente”. São apenas números de um povo que incomoda as zonas de conforto compartilhadas por nós outros.



         Voltando ao Iêmen, a valorosa organização Médicos sem Fronteira informa que tratam atualmente, como podem, de 5 milhões de pessoas com variados graus de desnutrição. Centenas de crianças morrem todo dia vítimas da fome.

Mais de 3 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas em razão dos conflitos e encenam verdadeira diáspora moderna com destino a qualquer lugar que possa lhes dar uma gota de esperança.

         Não fosse isto sofrimento demais, há ainda as epidemias de cólera e de difteria que ceifam milhares de vidas. Bom lembrarmos que toda a rede de saúde do país, de hospitais a postos de saúde, foram bombardeados. Resistem sobre ruínas onde as mínimas condições de operacionalização são precárias ou inexistentes. Um verdadeiro desafio para os heróis do Médico Sem Fronteiras.

         É assim que o mundo funciona:

Internamente guerras são mantidas intermináveis por alguns que militam em nome de Deus, mas atendem às diretrizes do diabo.

Externamente, as nações ricas (mas que desejam ampliar sua participação nas riquezas ou no mapa geopolítico mundial) se digladiam utilizando-se dos povos em conflito, qual fossem mamulengos a seu dispor.

Na lista dos objetivos nunca estão os interesses dos povos submetidos a tais suplícios. Apenas a cobiça dos invasores e dos manipuladores, para quem os civis mutilados e sofridos não passam de dejetos indesejáveis, males necessários à concretização de sua sede de conquistas. Tudo isto transformando o Iêmen em uma saga semelhante à da séria Walking Dead, porém sem o brilho, os dólares e a audiência. Apenas uma legião de miseráveis errantes, esquecidos e indesejados pelo mundo.