Noventa
e seis anos de profissão, pode-se dizer. Bibi Ferreira nasceu em junho de 1922,
em plena efervescência da Semana de Arte Moderna, que mudou os rumos da arte
brasileira a partir de fevereiro do mesmo ano.
Contava
apenas vinte dias de nascida e já estreou nos palcos em uma rápida aparição na
peça Manhã de Sol, de autoria do gênio Oduvaldo Viana Filho, o inesquecível
Vianinha.
Filha
de mãe bailarina e de pai ator, passou a vida praticamente na ribalta. Herdou
dos dois o talento incomum para o teatro, a dança e o canto.
Em
seu portfólio constam musicais como “My Fair Lady”, “Hello Dolly” “Brasileiro,
Profissão Esperança”, programas
televisivos como “Brasil 60” e “Bibi Sempre aos Domingos”. No teatro, os
marcantes “O Homem de La Mancha”, “Piaf, A Vida de uma Estrela da Canção” (seis
anos em cartaz, um milhão de espectadores, uma perfeccionista homenagem à
cantora francesa Edit Piaf) e “Bibi Vive Amália” (homenagem à cantora portuguesa
Amália Rodrigues. Não fosse suficiente, foi diretora em “Deus Lhe Pague”, de
Joracy Camargo, “Toalhas Quentes” e outros. Até nas óperas experimentou sua
incursão, dirigindo “Carmem” de Bizet em 1999. Recebeu ainda justas premiações
como Moliére, Mambembe e Sharp.
Em
sua extensa carreira brilhou muitas outras vezes. Entretanto, um marco foi sua
memorável interpretação da personagem Joana em Gota Dágua, de autoria de seu então
marido Paulo Pontes e de Chico Buarque e direção de Gianni Ratto. Muito
justamente ela considerava ser Gota Dágua o melhor texto teatral brasileiro. A
peça conseguiu ser encenada por haver ludibriado os arapongas da censura, que
não entenderam as mensagens subliminares que portava. Gota Dágua e Bibi
Ferreira restaram como duas instituições perenes, sempre lembrados por quem tem
apreço à cultura e à inteligência.
Fluente
em espanhol, francês e inglês, com sua ousadia e franco talento chegou a
apresentar “Bibi Canta Sinatra” (seu cantor predileto) nos Estados Unidos.
Uma
vida inteira dedicada à arte culminou com “Bibi – Por Toda a Minha Vida”
espetáculo que estreou aos 95 anos, onde homenageou grandes compositores
brasileiros, que estreou em 2017.
Bibi
foi tudo isto e muito mais. Não é exagero o título de primeira dama do teatro
brasileiro. Todas as homenagens que receber ainda serão insuficientes para fazermos
jus a uma personalidade tão complexa e um talento tão extraordinário.
Bibi
não se foi. Nós é que nos fomos dela, que continuará estrela por toda a
eternidade.
Relembremos o "Monólogo do Veneno", com Bibi em Gota Dágua: