sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

“EU VIVO, SIMPLESMENTE...” (eternamente Bibi Ferreira)




Noventa e seis anos de profissão, pode-se dizer. Bibi Ferreira nasceu em junho de 1922, em plena efervescência da Semana de Arte Moderna, que mudou os rumos da arte brasileira a partir de fevereiro do mesmo ano.


Contava apenas vinte dias de nascida e já estreou nos palcos em uma rápida aparição na peça Manhã de Sol, de autoria do gênio Oduvaldo Viana Filho, o inesquecível Vianinha.

Filha de mãe bailarina e de pai ator, passou a vida praticamente na ribalta. Herdou dos dois o talento incomum para o teatro, a dança e o canto.

Em seu portfólio constam musicais como “My Fair Lady”, “Hello Dolly” “Brasileiro, Profissão Esperança”,  programas televisivos como “Brasil 60” e “Bibi Sempre aos Domingos”. No teatro, os marcantes “O Homem de La Mancha”, “Piaf, A Vida de uma Estrela da Canção” (seis anos em cartaz, um milhão de espectadores, uma perfeccionista homenagem à cantora francesa Edit Piaf) e “Bibi Vive Amália” (homenagem à cantora portuguesa Amália Rodrigues. Não fosse suficiente, foi diretora em “Deus Lhe Pague”, de Joracy Camargo, “Toalhas Quentes” e outros. Até nas óperas experimentou sua incursão, dirigindo “Carmem” de Bizet em 1999. Recebeu ainda justas premiações como Moliére, Mambembe e Sharp.
    
Em sua extensa carreira brilhou muitas outras vezes. Entretanto, um marco foi sua memorável interpretação da personagem Joana em Gota Dágua, de autoria de seu então marido Paulo Pontes e de Chico Buarque e direção de Gianni Ratto. Muito justamente ela considerava ser Gota Dágua o melhor texto teatral brasileiro. A peça conseguiu ser encenada por haver ludibriado os arapongas da censura, que não entenderam as mensagens subliminares que portava. Gota Dágua e Bibi Ferreira restaram como duas instituições perenes, sempre lembrados por quem tem apreço à cultura e à inteligência.

Fluente em espanhol, francês e inglês, com sua ousadia e franco talento chegou a apresentar “Bibi Canta Sinatra” (seu cantor predileto) nos Estados Unidos.

Uma vida inteira dedicada à arte culminou com “Bibi – Por Toda a Minha Vida” espetáculo que estreou aos 95 anos, onde homenageou grandes compositores brasileiros, que estreou em 2017.

Bibi foi tudo isto e muito mais. Não é exagero o título de primeira dama do teatro brasileiro. Todas as homenagens que receber ainda serão insuficientes para fazermos jus a uma personalidade tão complexa e um talento tão extraordinário.  

Bibi não se foi. Nós é que nos fomos dela, que continuará estrela por toda a eternidade.


Relembremos o "Monólogo do Veneno", com Bibi em Gota Dágua: