quarta-feira, 15 de abril de 2020

BRASIL – ESSE INFERNAL REINO DA BUROCRACIA




O Estado brasileiro não somente é caro para seus contribuintes. É mau também, principalmente com os manos favorecidos e que, pelo menos teoricamente precisariam mais de seu apoio.
Instalou-se em nosso país um verdadeiro Reino da Burocracia que espreita a cada movimento social, a cada prática trabalhista e a cada necessidade do cidadão. Na maioria das vezes as exigências burocráticas vêm acompanhadas de mais custos, mais obrigações financeiras ao cidadão, além do imenso tempo despendido a cada investida.
Centenas são os exemplos, mas abordaremos apenas alguns, a título de relembrança para todos nós.
Quem não se lembra que a partir de 1997 o licenciamento anual de veículos tinha que ser acompanhado por um detestável selo a ser afixado no para-brisas dos veículos? O famigerado passou a constituir-se na verdadeira regularização fiscal do veículo. De nada adiantava que o proprietário pagasse suas obrigações fiscais ao Detran se aquele ícone não estivesse devidamente afixado.
E em 1998 o detestável kit de primeiros socorros, que deveria conter, ao espírito da lei, dois rolos de ataduras de crepe, um rolo pequeno de e3sparadrapo, dois pacotes de gaze, uma bandagem de algodão triangular, dois pares de luvas de procedimento e uma tesoura de ponta romba. Tudo isto devidamente acondicionado em um recipiente adequado. Não precisamos dizer que, ato contínuo à obrigação legal, tais equipamentos passaram a custar até vinte vezes seu preço normal.
E a ininteligível Declaração de Isento à Receita Federal, criada em 2008? Segundo ela, aqueles cidadãos que não atingiam a renda mínima para sua declaração de rendimentos anual precisariam dizer isto ao órgão público. Ou seja, milhões de documentos e toneladas de papel eram encaminhados à Secretaria da Receita Federal – devidamente processados – informando simplesmente que não precisariam declarar!!! Parece piada, mas não é.
Tem muito mais. Em 2014 tivemos o imbróglio que mais pareceu uma brincadeira de mau gosto, obrigando os proprietários a trocar os extintores de incêndio até então utilizados, do modelo “BC” pelos do modelo “ABC”. Além da vogal adicionada, ninguém era capaz de dizer a razão de tal modificação,. Soubemos todos, evidentemente, que tal manobra resultaria em um gasto considerável, pois os “BC” nada valiam enquanto os “ABC” eram realmente caros. Recheados os bolsos dos fabricantes de tais equipamentos, ambos passaram a ser dispensáveis...
Vamos parar por aqui nos exemplos e focar nossas atenções à atual exigência de “regularização do CPF” imposta a quem deseja se beneficiar do auxílio governamental de R$ 600,00 fartamente divulgado pela mídia. Iniciemos com uma pergunta:
Quais as “irregularidades” existentes nos CPFs de milhões de brasileiros?

Muito simples. Vou exemplificar aqui o caso de alguém de meu conhecimento e que se encontra com tal dificuldade, situação similar a de tantos milhões. Todos os dados constantes de seus cadastros na Receita Federal e em outros órgãos federais estão regulares e idênticos. EXCETO UM: em um deles o nome de sua genitora está grafado AURELINA e em outro AURELINDA.

Um poderosíssimo “D” converte algo que seria de simplicidade franciscana em um calvário de dificuldades. Ah! Diriam alguns: poderiam ser duas pessoas diversas. Como assim, respondo eu, se o nome do pai, data de nascimento, nacionalidade, naturalidade, nome, sobrenome e impressão digital são rigorosamente idênticos?
Mas há o poderoso “D” a infernizar a cidadã em nome do Reino Infernal da burocracia brasileira.

São problemas dessa dimensão que têm levado milhões de brasileiros às filas da Receita e dos bancos em busca da tal “regularização”, qual um pote de ouro no final do arco íris...

Felizmente temos notícia de que a Justiça Federal do Distrito Federal determinou a suspensão dessa patética exigência, em decisão ainda passível de recurso.
E nosso povo sofrido, mal remunerado, carente de saneamento básico, vítima de uma estrutura de saúde deficiente, passageiro de inadequados transportes urbanos leva sua vida sorridente.

Uma cervejinha no fim de semana, a pelada do sábado e outras míseras benesses permitem que ele possua alguma mobilidade sob a opressão desse reino que não lhe devolve uma justa parcela daquilo que lhe toma.   

E agora as três míseras parcelas...

Apenas R$ 1.800,00, mas que jamais passariam despercebidos pelos burocratas sempre atentos em seu plantão...