domingo, 8 de dezembro de 2019

THE BEATLES - A TRILHA SONORA DE GERAÇÕES E DOS MELHORES SONHOS


Mais uma apresentação do lindíssimo espetáculo BEATLES IN CONCERT, imaginado e realizado por Aggeu Marques, acompanhado pela banda The Yesterdays, pela Fractal Oschestra e pelo Coral Voz e Cia.

Tive o privilégio de assisti-lo pela segunda vez, inundado pela mesma emoção e extasiado com a renovada beleza do evento.

Nós, os privilegiados que vivemos infância e adolescência sob a trilha sonora do Quarteto de Liverpool pudemos acompanhar desde seu início a incrível saga da banda que atravessa gerações.

Tivemos também a responsabilidade de transmitir a nossos filhos aquela trilha sonora que atravessou os turbulentos anos 60, as contradições dos anos 70, os avanços tecnológicos dos anos 80, as guerras espetáculos dos anos 90, as incertezas desorganizações estruturais dos anos 2000 e segue seu rumo firme e inabalável.

Sua legião de fãs iniciou-se com nossos pais, mantém-se conosco e transmite-se a nossos filhos e netos, revelando uma inacreditável e inabalável presença no cenário cultural da humanidade. Nenhuma outra foi igual e aparentemente jamais será.

Só eles.

Mentes conturbadas e doentias podem querer vinculá-los ao mal. Beatles, entretanto, caminham com o estigma dos melhores anos de nossas vidas, mesmo que em meio de tantos momentos historicamente dolorosos.

Neste espírito que ultrapassa os sessenta anos tivemos o imenso prazer de assistir (mais uma vez) o belíssimo BEATLES IN CONCERT no grande teatro do Palácio das Artes.

A Fractal Orchestra reproduz de forma extremamente competente as inesquecíveis trilhas do Quarteto, acompanhada pela beleza musical do Coral Voz e Cia. Tudo se encaixando como em um maravilhoso quebra cabeças.   

Não foi um retorno a essa ou aquela década porque o espectro dos Beatles traz tudo o que de melhor que vivemos desde a segunda metade do século vinte. Aggeu Marques e Companhia conseguem retratar com fidelidade e rara beleza esse patrimônio musical.

A única expectativa que resta ao final do espetáculo, com o icônico Hey Jude, é sabermos quando será a nova apresentação do espetáculo.

BEATLES IN CONCERT é como a saga Star Wars: não basta assistir uma, duas ou três vezes...  

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

O DIABO DENTRO DE SI




É o diabo uma acepção grega que a partir de “diábolos” significa aquele que inspira o ódio e a inveja. Personifica o "ho diabolan", o  caluniador, ou acusador. É tratado como a representação do ser maldizente, imerso em calúnias.

No grego διάβολος, é um um anjo querubim, próximo de Deus e que foi expulso do céu por ser iniciador de uma rebelião de anjos contra Ele, com o intuito de tomar o trono.

Tentativa de um golpe de Estado, por assim dizermos...

Como em todo conhecimento que povoa a raça humana, em especial a cristã, julgou-se necessário criar um símbolo, um ícone ao dizer de nossos tempos. Daí a cor vermelha, os chifres, o rabo...

De malfeitor e essência do que pior conhece a raça humana, foi ele peça fundamental no avanço das religiões, em especial a cristã, É de se perguntar o que seria do cristianismo, principalmente nos tempos obscuros da Idade Média, sem o diabo.

É de se perguntar ainda se quem manteve cativos os fiéis durante séculos de domínio da hierarquia católica foi a verve dos padres ou do medo inspirado pelo  "ho diabolan".

Pode-se considerá-lo como razão do apego religioso, fundamentado no medo das coisas ruins que ele poderia provocar ou como simples símbolo do mal. Em qualquer das hipóteses, a convicção de sua existência espiritual ou material coloca o “coisa ruim” em situação equivalente à do próprio Deus, ainda que de forma antagônica.

O padre católico Fábio de Melo disse em uma entrevista: “Cada um que expulse o diabo que criou. O diabo é seu, somente você tem autoridade de tirá-lo da ação. Se eu fico pensando no diabo como uma instância, eu perco a responsabilidade de reconhecer em mim o que é diabólico. Eu tenho atitudes diabólicas, você tem também”.

Esta é a absoluta negação do exorcismo e a transformação do diábolo em mero sentimento profundamente humano, nascido de nossas invejas, maledicências ou desejos inconfessos.

Por sua vez, o papa Francisco já disse que o diabo é mentiroso, é o pai dos mentirosos, o pai da mentira”. Será que, entre outras palavras, ele não seria a própria mentira?

Disse também que Precisamos de um exorcista, porque uma pessoa foi possuída pelo demônio’, não me preocupo tanto como quando vejo essas pessoas que abriram a porta aos demônios educados, que convencem de dentro que não são tão inimigos”. Consideremos que tais portas informadas pelo grande papa parecem ter sido abertas no interior do próprio cristão.

Parece que é em suas cavernas interiores que o crente molda e estrutura seu próprio e particular demônio.

Uma coisa se afigura aparentemente certa: o bem é ensinado pela palavra de Deus e cabe ao fiel assimilar sua doutrina, interiorizá-la e mantê-la como bússola na trilha da vida.

O mal, ao contrário, não tem manual de instruções, é, ao contrário, construção artesanal inspirada pelos piores sentimentos humanos, como a inveja, a cobiça, a ira e tantos outros.

Por via das dúvidas, melhor preencher nosso interior – ou nosso espírito, como queiram – com sentimentos nobres e aspirações benéficas para nossa vida e a de quem nos rodeia.

Não é definitivamente uma boa idéia criar o diabo dentro de si...

domingo, 31 de março de 2019

IÊMEN: UM WALKING DEAD SEM AUDIÊNCIA



        Muitos nunca ouviram falar no Iêmen, um paupérrimo país que divisa com Arábia Saudita e Oman por terra, vizinhos riquíssimos, inundados de petrodólares.   Atravessando o Golfo de Aden, bem ali no chifre da África, temos a Somália e Eritréia, duas nações que, somadas ao Iêmen, representam uma das porções mais atrasadas e miseráveis do planeta, constantemente sacudidas por revoltas, mortes, doenças e subnutrição.




         É o traçado da geopolítica mundial: frequentemente os famintos são ladeados por aqueles que se chafurdam no dólar e no ouro.

         O Iêmen tem hoje algo próximo dos 30 milhões de habitantes, consumidos pela guerra, pela pobreza e pela violência.

         Na luta pelo poder, ambos muçulmanos, se digladiam os  houthis (minoria xiita) e  a maioria constituída por outras origens étnicas, mas todos filhos do Islã, seguidores de Allah.

         Como sempre ocorre, as partes em um conflito obtêm apoio bélico e financeiro de potências mundiais sempre desejosas de ampliar suas áreas de atuação no planeta.

         No caso iemenita, Arábia Saudita, EUA. França e Reino Unido, em maior ou menor grau, apoiam o governo estabelecido. Já os rebeldes houthis encontram apoio em seus irmãos xiitas do Irã.

         No fundo, é uma guerra de poder entre agentes externos que pouco se interessam pela miséria humana, mantendo sua atenção somente em questões de dominação territorial ou em riquezas como o petróleo, ouro ou diamantes.

         A tragédia dos civis pouco importa: são legiões de esfomeados e doentes que vivem uma realidade semelhante à ocorrida no seriado Walking Dead. No Iêmen (como em outros locais do planeta), milhares ou milhões de pessoas vagam sem destino certo, tentando fugir do suplício que outros lhe impõem. Deixam de ser “gente” para se tornarem “refugiados”, inflando estatísticas e amealhando o ódio dos favorecidos pela sorte por serem residentes na França, na Alemanha ou no Brasil.

         “Refugiados” não são tratados como “gente”. São apenas números de um povo que incomoda as zonas de conforto compartilhadas por nós outros.



         Voltando ao Iêmen, a valorosa organização Médicos sem Fronteira informa que tratam atualmente, como podem, de 5 milhões de pessoas com variados graus de desnutrição. Centenas de crianças morrem todo dia vítimas da fome.

Mais de 3 milhões de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas em razão dos conflitos e encenam verdadeira diáspora moderna com destino a qualquer lugar que possa lhes dar uma gota de esperança.

         Não fosse isto sofrimento demais, há ainda as epidemias de cólera e de difteria que ceifam milhares de vidas. Bom lembrarmos que toda a rede de saúde do país, de hospitais a postos de saúde, foram bombardeados. Resistem sobre ruínas onde as mínimas condições de operacionalização são precárias ou inexistentes. Um verdadeiro desafio para os heróis do Médico Sem Fronteiras.

         É assim que o mundo funciona:

Internamente guerras são mantidas intermináveis por alguns que militam em nome de Deus, mas atendem às diretrizes do diabo.

Externamente, as nações ricas (mas que desejam ampliar sua participação nas riquezas ou no mapa geopolítico mundial) se digladiam utilizando-se dos povos em conflito, qual fossem mamulengos a seu dispor.

Na lista dos objetivos nunca estão os interesses dos povos submetidos a tais suplícios. Apenas a cobiça dos invasores e dos manipuladores, para quem os civis mutilados e sofridos não passam de dejetos indesejáveis, males necessários à concretização de sua sede de conquistas. Tudo isto transformando o Iêmen em uma saga semelhante à da séria Walking Dead, porém sem o brilho, os dólares e a audiência. Apenas uma legião de miseráveis errantes, esquecidos e indesejados pelo mundo.




sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

“EU VIVO, SIMPLESMENTE...” (eternamente Bibi Ferreira)




Noventa e seis anos de profissão, pode-se dizer. Bibi Ferreira nasceu em junho de 1922, em plena efervescência da Semana de Arte Moderna, que mudou os rumos da arte brasileira a partir de fevereiro do mesmo ano.


Contava apenas vinte dias de nascida e já estreou nos palcos em uma rápida aparição na peça Manhã de Sol, de autoria do gênio Oduvaldo Viana Filho, o inesquecível Vianinha.

Filha de mãe bailarina e de pai ator, passou a vida praticamente na ribalta. Herdou dos dois o talento incomum para o teatro, a dança e o canto.

Em seu portfólio constam musicais como “My Fair Lady”, “Hello Dolly” “Brasileiro, Profissão Esperança”,  programas televisivos como “Brasil 60” e “Bibi Sempre aos Domingos”. No teatro, os marcantes “O Homem de La Mancha”, “Piaf, A Vida de uma Estrela da Canção” (seis anos em cartaz, um milhão de espectadores, uma perfeccionista homenagem à cantora francesa Edit Piaf) e “Bibi Vive Amália” (homenagem à cantora portuguesa Amália Rodrigues. Não fosse suficiente, foi diretora em “Deus Lhe Pague”, de Joracy Camargo, “Toalhas Quentes” e outros. Até nas óperas experimentou sua incursão, dirigindo “Carmem” de Bizet em 1999. Recebeu ainda justas premiações como Moliére, Mambembe e Sharp.
    
Em sua extensa carreira brilhou muitas outras vezes. Entretanto, um marco foi sua memorável interpretação da personagem Joana em Gota Dágua, de autoria de seu então marido Paulo Pontes e de Chico Buarque e direção de Gianni Ratto. Muito justamente ela considerava ser Gota Dágua o melhor texto teatral brasileiro. A peça conseguiu ser encenada por haver ludibriado os arapongas da censura, que não entenderam as mensagens subliminares que portava. Gota Dágua e Bibi Ferreira restaram como duas instituições perenes, sempre lembrados por quem tem apreço à cultura e à inteligência.

Fluente em espanhol, francês e inglês, com sua ousadia e franco talento chegou a apresentar “Bibi Canta Sinatra” (seu cantor predileto) nos Estados Unidos.

Uma vida inteira dedicada à arte culminou com “Bibi – Por Toda a Minha Vida” espetáculo que estreou aos 95 anos, onde homenageou grandes compositores brasileiros, que estreou em 2017.

Bibi foi tudo isto e muito mais. Não é exagero o título de primeira dama do teatro brasileiro. Todas as homenagens que receber ainda serão insuficientes para fazermos jus a uma personalidade tão complexa e um talento tão extraordinário.  

Bibi não se foi. Nós é que nos fomos dela, que continuará estrela por toda a eternidade.


Relembremos o "Monólogo do Veneno", com Bibi em Gota Dágua:






terça-feira, 29 de janeiro de 2019

A ESPADA DE DÂMOCLES E A CEGA AMBIÇÃO



Ovídio, notável poeta romano que viveu entre 43 a.C e 18 d.C, deixou ao mundo uma importante obra, da qual podemos recolher um pequeno exemplo na frase de extraordinária modernidade: “A PUNIÇÃO PODE SER ANULADA, MAS  CULPA SERÁ PERENE.

É atual também a metáfora recolhida por Ovídio, conhecida por “A Espada de Dâmocles”.

Segundo esse mito, Dâmocles foi servidor mais que abnegado do tirano rei Dionísio, que mantinha seus domínios em Siracusa. Tendo excedido na inveja que tinha dos poderosos e do próprio rei, foi objeto de uma definitiva lição.

O rei, incomodado por tanta adulação e avidez permitiu a Dâmocles uma noite em seu lugar. Naquele período, o invejoso poderia desfrutar do poder, dos banquetes, da esbórnia palaciana, enfim de tudo aquilo que sempre cobiçara.

Dionísio, entretanto, preparou-lhe uma surpresa: no meio de tanto deleite, Dâmocles percebeu que sobre sua cabeça pendia uma espada afiada, segura no teto apenas por um delicado fio, emprestado da crina de um cavalo do rei.

Dionísio relatou-lhe que tal espada continuamente estava pendente sobre sua cabeça, sendo a contrapartida do poder e da glória.  

Dâmocles fugiu e, para sempre esqueceu seus desejos de compartilhar da glória do reinado.

Essa mesma espada é pendente sobre as cabeças de políticos, administradores e personalidades cuja vida se resume à busca incessante da glória, do poder e do dinheiro.
Vez por outra a ameaça se realiza e o pontiagudo objeto rompe seu fino pendente e cai diretamente sobre a cabeça do ambicioso.

É o caso típico de Carlos Ghosn, o brasileiro que brilhou à frente de algumas das mais importantes indústrias automobilísticas do mundo. A soma de seus salários atingia algo em torno dos R$ 70 milhões anuais, quantia suficiente para satisfazer todos os seus desejos materiais.

Mas não, tentou obter mais recursos de forma ilegal e foi uma das vítimas da espada.

Tantos políticos fizeram e continuam fazendo o mesmo, sem perceberem que sobre eles pende o castigo que pode desabar a qualquer momento.

Na recente tragédia de Brumadinho temos uma figura sobre a qual também parece pender a vingadora espada.


Fabio Schvartsman, presidente da Vale tem contra si a hipótese de negligência da empresa que dirige na manutenção das barragens. Acusam a mineradora ainda de haver manipulado dados relativos às estruturas de engenharia por questão de economia.


A Justiça bloqueou até agora R$ 11 bilhões em contas da Vale. Sinal de que a administração financeira ia bem e que ela poderia ter gasto alguns milhares de reais no aperfeiçoamento das contenções. 

Mas o lucro falou mais alto e a espada agora pende sobre o executivo.

Já pensou se Carlos, Fabio e tantos outros pudessem de repente perceber a fatal e afiada ameaça segura por um fio de cabelo?

Certamente teriam feito como Dâmocles e sairiam correndo, trocando suas posições e sucessos pela tranquilidade e pela paz de espírito.

Mas não, a cobiça vence quase sempre e quando a espada desaba deixa o gosto amargo da culpa e do arrependimento.

É... melhor fez Dâmocles...  

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

QUANTO À VALE, SE TIVER DE QUEBRAR QUE QUEBRE...



De novo.

Implacavelmente de novo a incompetência, o descaso e a irresponsabilidade criminosa venceram.

Quem foi o responsável? A fiscalização? O governo? Agora passaremos os próximos meses tentando descobrir um culpado, quando o verdadeiro está encoberto pela soleira da porta e pela dificuldade do Judiciário brasileiro em punir verdadeiros criminosos.

Não foi a barragem que ruiu. Pouco importa se estava desativada ou não.

Alguém sabe dizer se houve um terremoto?

Um vendaval?

Uma tromba dágua?

Um ciclone?

Não. O que houve foram HOMICÍDIOS que, segundo alguns órgãos de imprensa podem superar 100 vidas. Deus queira que não.

Mas empresas não cometem homicídios...

Empresas não, mas presidentes de empresas sim, gerentes-de-alguma-coisa sim. Talvez eles estivessem contando os milhões que não pagaram aos atingidos na barragem de Mariana...

É simples.

Absolutamente dentro do devido processo legal, que seja cassada a licença mineratória da Vale. Se tiver que quebrar que quebre. Já vai tarde antes que outra ou outras tragédias se sucedam ao sabor da impunidade. 

Só um órgão do Estado brasileiro é capaz de fazer justiça a tantos que perderam suas vidas e seus bens: o Ministério Público. Que ele possa agir sem intervenção dos abutres que se saciam no sangue e nos patrimônios de terceiros a cada tragédia.

Quanto aos funcionários que nada têm a ver com isto, é fácil ao Estado manter-lhes os salários até que outra companhia ganhe o leilão do espólio mineral dessa companha vale (que já foi do Rio Doce, mas hoje nos envergonha em nossa mineiridade).

Quanto a essa empresa de glorioso passado e de triste presente, bem como suas subsidiárias e coligadas no ramo mineral, SE TIVEREM DE QUEBRAR QUE QUEBREM.