terça-feira, 29 de janeiro de 2019

A ESPADA DE DÂMOCLES E A CEGA AMBIÇÃO



Ovídio, notável poeta romano que viveu entre 43 a.C e 18 d.C, deixou ao mundo uma importante obra, da qual podemos recolher um pequeno exemplo na frase de extraordinária modernidade: “A PUNIÇÃO PODE SER ANULADA, MAS  CULPA SERÁ PERENE.

É atual também a metáfora recolhida por Ovídio, conhecida por “A Espada de Dâmocles”.

Segundo esse mito, Dâmocles foi servidor mais que abnegado do tirano rei Dionísio, que mantinha seus domínios em Siracusa. Tendo excedido na inveja que tinha dos poderosos e do próprio rei, foi objeto de uma definitiva lição.

O rei, incomodado por tanta adulação e avidez permitiu a Dâmocles uma noite em seu lugar. Naquele período, o invejoso poderia desfrutar do poder, dos banquetes, da esbórnia palaciana, enfim de tudo aquilo que sempre cobiçara.

Dionísio, entretanto, preparou-lhe uma surpresa: no meio de tanto deleite, Dâmocles percebeu que sobre sua cabeça pendia uma espada afiada, segura no teto apenas por um delicado fio, emprestado da crina de um cavalo do rei.

Dionísio relatou-lhe que tal espada continuamente estava pendente sobre sua cabeça, sendo a contrapartida do poder e da glória.  

Dâmocles fugiu e, para sempre esqueceu seus desejos de compartilhar da glória do reinado.

Essa mesma espada é pendente sobre as cabeças de políticos, administradores e personalidades cuja vida se resume à busca incessante da glória, do poder e do dinheiro.
Vez por outra a ameaça se realiza e o pontiagudo objeto rompe seu fino pendente e cai diretamente sobre a cabeça do ambicioso.

É o caso típico de Carlos Ghosn, o brasileiro que brilhou à frente de algumas das mais importantes indústrias automobilísticas do mundo. A soma de seus salários atingia algo em torno dos R$ 70 milhões anuais, quantia suficiente para satisfazer todos os seus desejos materiais.

Mas não, tentou obter mais recursos de forma ilegal e foi uma das vítimas da espada.

Tantos políticos fizeram e continuam fazendo o mesmo, sem perceberem que sobre eles pende o castigo que pode desabar a qualquer momento.

Na recente tragédia de Brumadinho temos uma figura sobre a qual também parece pender a vingadora espada.


Fabio Schvartsman, presidente da Vale tem contra si a hipótese de negligência da empresa que dirige na manutenção das barragens. Acusam a mineradora ainda de haver manipulado dados relativos às estruturas de engenharia por questão de economia.


A Justiça bloqueou até agora R$ 11 bilhões em contas da Vale. Sinal de que a administração financeira ia bem e que ela poderia ter gasto alguns milhares de reais no aperfeiçoamento das contenções. 

Mas o lucro falou mais alto e a espada agora pende sobre o executivo.

Já pensou se Carlos, Fabio e tantos outros pudessem de repente perceber a fatal e afiada ameaça segura por um fio de cabelo?

Certamente teriam feito como Dâmocles e sairiam correndo, trocando suas posições e sucessos pela tranquilidade e pela paz de espírito.

Mas não, a cobiça vence quase sempre e quando a espada desaba deixa o gosto amargo da culpa e do arrependimento.

É... melhor fez Dâmocles...  

Um comentário:

  1. A tragédia da vale deixa ainda mais clara a inversão de valores, inversão esse em que o dinheiro fala mais alto o todo. Como é possivel meu Deus cálculos financeiros em cima de vidas ceifadas. Realmente o apocalipse já chegou.

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