Ovídio, notável poeta romano que viveu entre 43 a.C e 18 d.C, deixou ao
mundo uma importante obra, da qual podemos recolher um pequeno exemplo na frase
de extraordinária modernidade: “A PUNIÇÃO
PODE SER ANULADA, MAS CULPA SERÁ PERENE.
É atual também a metáfora recolhida por Ovídio, conhecida por “A Espada
de Dâmocles”.‘
Segundo esse mito, Dâmocles foi servidor mais que abnegado do tirano rei
Dionísio, que mantinha seus domínios em Siracusa. Tendo excedido na inveja que
tinha dos poderosos e do próprio rei, foi objeto de uma definitiva lição.
O rei, incomodado por tanta adulação e avidez permitiu a Dâmocles uma
noite em seu lugar. Naquele período, o invejoso poderia desfrutar do poder, dos
banquetes, da esbórnia palaciana, enfim de tudo aquilo que sempre cobiçara.
Dionísio, entretanto, preparou-lhe uma surpresa: no meio de tanto
deleite, Dâmocles percebeu que sobre sua cabeça pendia uma espada afiada,
segura no teto apenas por um delicado fio, emprestado da crina de um cavalo do
rei.
Dionísio relatou-lhe que tal
espada continuamente estava pendente sobre sua cabeça, sendo a contrapartida do
poder e da glória.
Dâmocles fugiu e, para sempre esqueceu seus desejos de compartilhar da
glória do reinado.
Essa mesma espada é pendente sobre as cabeças de políticos,
administradores e personalidades cuja vida se resume à busca incessante da glória,
do poder e do dinheiro.
Vez por outra a ameaça se realiza e o pontiagudo objeto rompe seu fino
pendente e cai diretamente sobre a cabeça do ambicioso.
É o caso típico de Carlos Ghosn, o brasileiro que brilhou à frente de
algumas das mais importantes indústrias automobilísticas do mundo. A soma de
seus salários atingia algo em torno dos R$ 70 milhões anuais, quantia suficiente
para satisfazer todos os seus desejos materiais.
Mas não, tentou obter mais recursos de forma ilegal e foi uma das
vítimas da espada.
Tantos políticos fizeram e continuam fazendo o mesmo, sem perceberem que
sobre eles pende o castigo que pode desabar a qualquer momento.
Na recente tragédia de Brumadinho temos uma figura sobre a qual também
parece pender a vingadora espada.
Fabio Schvartsman, presidente da Vale tem contra si a hipótese de negligência da empresa que dirige na manutenção das barragens. Acusam a mineradora ainda de haver manipulado dados relativos às estruturas de engenharia por questão de economia.
A Justiça bloqueou até agora R$ 11
bilhões em contas da Vale. Sinal de que a administração financeira ia bem e que
ela poderia ter gasto alguns milhares de reais no aperfeiçoamento das
contenções.
Mas o lucro falou mais alto e a espada agora pende sobre o
executivo.
Já pensou se Carlos, Fabio e tantos
outros pudessem de repente perceber a fatal e afiada ameaça segura por um fio
de cabelo?
Certamente teriam feito como Dâmocles e
sairiam correndo, trocando suas posições e sucessos pela tranquilidade e pela
paz de espírito.
Mas não, a cobiça vence quase sempre e
quando a espada desaba deixa o gosto amargo da culpa e do arrependimento.
É... melhor fez Dâmocles...
A tragédia da vale deixa ainda mais clara a inversão de valores, inversão esse em que o dinheiro fala mais alto o todo. Como é possivel meu Deus cálculos financeiros em cima de vidas ceifadas. Realmente o apocalipse já chegou.
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