quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Nobel da paz foi à guerra

Sílvio Lanna

Francamente, jamais achei que mr. Obama representasse uma grande virada no american way of power que tradicionalmente tem justificado as mais absurdas intervenções americanas no planeta.


O fato de ser negro realmente significou um avanço, notadamente em um país que assentou sua história no preconceito racial e nas decorrentes manifestações de ódio entre concidadãos.

Só isto, aparentemente, credencia o presidente americano a apresentar-se como uma mudança realmente digna de nota.


Para nos atermos aos quadros do Partido Democrata, lembremo-nos de que ele foi precedido por políticos que deixaram marcas profundas no cenário mundial, seja por seus atos, seja pelos momentos históricos em que se inscreveram, como Roosevelt, Truman, Kennedy e Clinton.


Não obstante, a Real Academia Sueca houve por bem conceder a altíssima honraria constituída pelo Prêmio Nobel da Paz ao dirigente americano. Tentando explicar a insólita escolha, seus representantes a atribuíram a um crédito de confiança para que Obama pudesse, futuramente, contribuir para a desejada paz mundial.


O rol de personalidades que realmente envidaram esforços para que este planeta pudesse ficar um pouquinho melhor de se viver contém nomes como Martii Ahtisaari (finlandês atuante em diversas negociações pela paz mundo afora), Shirin Ebadi (ativista iraniana em defesa de minorias naquele país), a organização Médicos sem Fronteira (que atua no socorro médico às vítimas de conflitos mundiais), a dupla John Hume e David Trimble (pelos esforços para acabar com a guerra interna na Irlanda do Norte), madre Teresa de Calcutá, dentre outros.

Nunca me pareceu que mr. Obama pudesse ficar à vontade em tão seleta companhia.

Pois bem, ontem ele anunciou o envio de mais 30.000 militares americanos ao Afeganistão, tendo como meta que a ocupação atinja 100.000 soldados. A justificativa é a de sempre: ameaça à segurança internacional e defesa de um país por quem os EUA manifestam especial apreço.

Ninguém é louco de defender as práticas do Taleban ou de considerá-lo como uma opção razoável de governo, até porque nada mais fez que barbáries e absurdo desrespeito aos mais elementares direitos humanos quando controlou o país. É preciso considerarmos, portanto, que o Taleban é um problema, mas é problema interno do Afeganistão. Não vejo porque o restante do planeta possa se julgar ameaçado.

Entretanto, é uma das funções da ONU julgar a necessidade ou não de intervenção internacional por motivos humanitários. E foi o que fez, enviando para lá 40.000 militares. Não compete aos EUA a função que historicamente atribuíram a si próprios, de xerife da humanidade, no melhor estilo John Wayne.
A decisão comprovou, aparentemente, que Obama e Bush têm os olhos voltados para o mesmo horizonte, não obstante os discursos, as aparências e as tendências políticas difiram entre si.

A ironia está posta: após participação na reunião de Copenhagen, onde os líderes mundiais discutirão outra forma de paz - a sobrevivência do planeta -, mr. Obama irá receber seu laurel. Neste instante, milhares de marines estarão se preparando para matar ou morrer em terras estranhas, para lá enviados pelo paladino da paz.

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