domingo, 4 de julho de 2010

Páginas da resistência brasileira




Sílvio Lanna
Linguagem ferina, criatividade, humor agudo, crítica política, presença de espírito, irreverência em sua mais sublime expressão, além de outras características peculiares fizeram do tablóide O Pasquim um marco no jornalismo brasileiro, que fez aniversário recentemente.
Lançado em 26 de junho de 1969, manteve suas publicações até 11 de novembro de 1991 (edição nº 1072). Fundado por Jaguar, Tarso de Castro e Sérgio Cabral, com o passar do tempo a ele se juntaram Ziraldo, Millôr Fernandes, Claudius, Henfil, Paulo Francis, Ivan lessa, Fausto Wolf, Ruy Castro e outros importantes intelectuais. Quando da prisão de quase toda a equipe do jornal (de novembro de 1970 a fevereiro de 1971) ele quase foi fechado, não fosse pela intervenção de Chico Buarque, Antônio Callado, Rubem Fonseca, Odete Lara, Gáuber Rocha e outros, que o assumiram naquele período.
O Pasquim afrontou a ditadura militar, ridicularizou ícones e cutucou a sizudez nacional aterrorizada pelo regime de força. Foi também o porto onde atracaram grandes nomes da inteligência nacional, que contribuíram decisivamente para fustigar o regime e levar ao público leitor uma visão ácida, porém hilariante, da realidade nacional.
Foi um fenômeno editorial, chegando a atingir tiragens de até 250.000 exemplares. Os militares tudo fizeram para calar sua voz: censuraram, prenderam seus editores e coagiram anunciantes para retirada de patrocínios. Nada disto adiantou, entretanto, só tendo servido para aumentar a curiosidade - e as vendas - dos leitores.
A situação, com seus altos e baixos, durou até início da década de 80, quando a direita passou a utilizar-se de um argumento altamente convincente: explodir as bancas que vendiam jornais alternativos, como O Pasquim. A partir daí a publicação, que já vinha sofrendo agruras com a fuga de anunciantes, perdeu gradativamente também seus pontos de venda, sendo obrigada a encerrar as atividades no início da década de 90.
O jornal marcou seu espaço na história de nosso país pela coragem com que se manifestava, tendo sido a voz de muitos que foram obrigados a se calar pela violência do regime.
A TV Câmara produziu um excelente documentário sobre o tablóide, intitulado "O Pasquim - A subversão do Humor", com download na página http://www.camara.gov.br/internet/tvcamara/?lnk=COPIAR-ARQUIVO&tituloMateria=O-PASQUIM-A-SUBVERSAO-DO-HUMOR&selecao=ARQUIVO&materia=17536&programa=104&velocidade=56K .
É um documento histórico sensacional e que merece ser visto e revisto. O Pasquim serviu ainda de inspiração para os jornais Planeta Diário e Casseta Popular, que mais tarde dariam origem ao programa Casseta e Planeta.

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