terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Os escândalos de nosso dia a dia

Sílvio Lanna.

É como o clarão do crepúsculo: de início resplandece no horizonte e espraia seus fortes matizes sobre as montanhas. Em seguida, concentra-se nas cores mais fortes, sucumbindo as demais à força da escuridão que se aproxima. Apenas alguns minutos após, a noite toma conta de tudo e cala a explosão de energia que há pouco dominava o céu. E tudo se cala... Pronto: já nos esquecemos do dia que findou.

É também desta forma que outros gritos vão sendo calados no decorrer de nossa vida e da vida de nosso país.

Vamos testar nossa memória?

Quem ainda se lembra de alguns dos casos a seguir listados (apenas uma ínfima amostragem da relação de falcatruas aqui ocorridas): Banco Halles, Grupo Delfim, Coroa-Brastel, Imbrahim Abi-Ackel, Ceme, Georgina de Freitas, esquema PC Farias, Eletronorte, Vasp, DNOCS, Nilo Coelho, Eliseu Resende, Ottomar Pinto, CPI do pó, Anões do orçamento, Paulo Maluf, emenda da reeleição FHC, Banestado, Encol, Banco Marka, TRT-SP, Mensalões, Valerioduto, Correios, Banco Santos, Daniel Dantas, Sanguessugas, passagens aéreas, Renam Calheiros, MSI-Corínthians, José Sarney, etc etc etc...

Agora, rememoremos o mais recente dos casos da interminável lista de abominações e safadezas: o caso José Roberto Arruda em Brasília: após aquela constrangedora sucessão de gravações, mais uma vez a indignação nacional elevou-se aos extremos.

Pois bem, o governador retirou-se do DEM e já nos esquecemos de que sua militância era antiga e de que o partido poderia ter agido previamente. Mas pouco importa, o desgaste sofrido pelos Democratas e pelos tucanos parece ter sido suficientemente controlado.

Encerramos o ano com os protestos da Câmara Distrital de Brasília que, segundo sleus arautos, adiantaria o período legislativo de 2.010 para julgar os fatos e tomar as devidas providências...

O Ano Novo desabrochou sendo precedido e sucedido pelos atos de brutalidade da polícia brasiliense e de alguns de seus altos comandantes. Espancaram estudantes, afrontaram jornalistas, esmurraram mulheres, distribuíram ameaças e jatos de pimenta, enfim, demonstraram para todos nós porque são os brutamontes mais bem pagos do país.

Retornemos à Câmara Distrital: não em 10 de janeiro como prometido anteriormente, mas em 2 de fevereiro os senhores deputados elegeram o presidente da CPI que se propõe a julgar o Arrudagate. Escolheram o deputado Wilson Lima (PR), que não por coincidência é forte aliado político do Governador Arruda. Caberá a ele ainda manifestar-se sobre os oito deputados afastados por terem sido flagrados em atos de corrupção. São todos seus amigos, certamente.

E por falarmos neles, é possível que todos os oito e seus suplentes tenham que dividir as mesmas cadeiras dos respectivos gabinetes. Ou seja, os substitutos atuarão ao lado e ao mesmo tempo em que os substituídos, em uma insólita situação que contraria até mesmo as leis da Física...

Rapidamente já foi solicitado crédito adicional da ordem de R$ 600 mil para enfrentar o pagamento das despesas com os felizes suplentes, que receberão mais de R$ 12 mil mensais, além de férias, 13º, 14º, 15º, cobertura de despesas extraordinárias, custos de gabinete etc etc etc.

Todos juntos, titulares e suplentes torcem desesperadamente para o tempo correr e chegar logo o Carnaval, em seguida a Semana Santa e logo após, o período eleitoral, quando todos estarão muito ocupados para se dedicarem a tão desagradável assunto.

E haja farinha!

Até lá, quem sabe, a memória nacional já se desvencilhou das lembranças e as cores fortes da indignação já se transformaram nos tons pastéis do esquecimento...

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