domingo, 11 de novembro de 2018

NOVAS DIRETRIZES EM TEMPOS DE PAZ





É uma obra de 2009, com texto de Bosco Brasil, dirigida por Daniel Filho e brilhantemente encenada por Toni Ramos e Dan Stulbach.

Ambientada no final da Segunda Grande Guerra, relata os diálogos havidos entre Segismundo (Toni Ramos), oficial da alfândega que tinha como função evitar a entrada de nazistas no país. Em seu currículo gabava-se de ser eficiente cumpridor de ordens. Tinha sido torturador como ofício, sob o Estado Novo. Amainada a repressão, temia que suas dezenas de vítimas pudessem dele vingarem-se, uma vez que encontrava-se abandonado pelos antigos chefes.  

Torturar, ferir, mutilar e quebrar ossos eram atividades que cumpria simplesmente porque essas eram suas ordens. Nenhum remorso turvava-lhe a alma. Apenas um senão causava-lhe alguma crise de consciência, fato que é detalhado no filme.

Clausewitz (Stulbach), por sua vez, era um polonês que tentava imigrar para o Brasil, fugido dos horrores da guerra, tendo sido testemunha de mortes ocorridas em sua família e, particularmente de seu querido professor. Ator em sua terra, buscava afirmar-se agricultor para entrar em um país que “precisava de braços para a lavoura”.

Nos diálogos que se desenrolam no filme, a exuberante performance dos dois grandes atores, que imprimem sentimentos vários no expectador, integrando-o na trama, que conta com diálogos memoráveis.

Surpreendente, emocionante e extraordinário é o Monólogo de Segismundo, retirado da obra La Vida es Sueño, de autoria do espanhol  Calderón de la Barca. Uma primorosa atuação de Stulback bem ao estilo clássico em um tema criado no século XVII e que permeia as nossas gerações até hoje.

O tempo é 1945, mas o tema é recorrente: as guerras e as ditaduras. A violência e as torturas de ontem reprisaram-se nos anos de chumbo no Brasil e espreitam sorrateiras nas cadeias e nas mentes de tantos saudosistas de hoje.

Torturar e golpear a democracia são anseios doentios que brotam de algum complexo recôndito que vaga por nossa realidade qual zumbis. A idéia da violência pela violência mostra-se atraente, ainda que tantas experiências traumáticas tenham ocorrido na história.

O ator polonês em Tempos de Paz fugia das atrocidades e deu de cara com outras, didaticamente relatadas pelo oficial autoritário brasileiro. É a sempre presente, porém mal compreendida dialética.

Por tudo isto o filme é digno de ser revisitado e sorvido com absoluta atenção, em silêncio e com todos os sentimentos do expectador disponíveis.

Uma obra prima!

 É assistir, deliciar-se, emocionar-se e quem sabe, verter algumas lágrimas.


O monólogo:




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