terça-feira, 10 de outubro de 2017

FIRST THEY KILLED MY FATHER


Mais uma produção de qualidade da Netflix, desta vez sob a direção de Angelina Jolie. É o quinto longa metragem que assina (“A place in time” em 2007, “In the land of blood and honey”, este traduzido no Brasil como “Na terra de amor e ódio” em 2011, “Invencível”, em 2014, “À beira mar”, em que contracena com Brad Pitt).

Jolie tem um grande histórico cinematográfico. É filha de John Voight (Oscar por “Amargo Regresso” e participação no clássico “Midnight Cowboy”, além de “Lara Croft”, “Pearl Harbor”, “O Campeão”, “Missão Impossível” e outros). Participou de dezenas de filmes, tendo alguns deles conquistado grande sucesso de público (“Salt”, “Malévola”, ”O turista”, “A troca”, “Sr. e sra. Smith”, “Lara Croft” e outros), tornando-se uma das campeãs de faturamento em Hollywood.

Desta vez traz um drama histórico com ares de documentário retratando a autobiografia contada por Loung Ung em seu livro homônimo.

O contexto histórico é o período da cruel ditadura de Pol Pot, líder do Khmer Vermelho (anghkar), que dominou o Camboja entre 1975 e 1979, quando foram assassinadas mais de dois milhões de pessoas, ou cerca de 25% da população do país.

O Khmer tentou implantar no país uma forma grotesca e absurda de reforma agrária em um figurino de implantação fadada ao fracasso.  Mas foi tentada pelo esvaziamento das cidades e brutal extermínio de todos os que tinham qualquer relação com o antigo regime. As comunidades de trabalho agrícola forçado se disseminaram pelo país, bem como o sofrimento dos cambojanos, particularmente aqueles que ostentavam algum traço ocidental (professores, funcionários públicos, profissionais liberais, ou simplesmente quem falasse línguas estrangeiras ou cultivasse ciências ou letras).

A família foi considerada proscrita, sendo substituída pelo Estado e as crianças incentivadas a entregar pais e familiares para prisão ou execução.

Não obstante se denominasse comunista, era contrário à doutrina marxista, tendo combinado suas próprias teses filosóficas com alguns princípios maoístas, espelhando-se também no forçado êxodo rural da Revolução Cultural chinesa do final dos anos 60.

Pol Pot, não obstante mentor intelectual e principal responsável pelo genocídio cambojano, jamais chegou a ser julgado. Morreu antes que o Tribunal Penal Internacional pudesse condená-lo por crimes contra a humanidade.

O filme, que foi escolhido pelo Camboja para representa-lo no Oscar, relata esse período de brutalidade, aos olhos de uma criança cuja família foi compulsoriamente levada para trabalhos no campo.


Com ares de documentário, a película não objetiva ser registro  histórico, mas fundamentar-se no sentimento da protagonista, uma criança de 5 anos envolvida nos horrores do absurdo regime que se instalara no Camboja. É emocional, traduzindo os fatos pelos olhos da menina autora.

A aparente lentidão da narrativa e a apresentação homeopática de  cenas sangrentas e violentas, típicas de um filme como este, o aproximam da visão infantil que permeia a narrativa. Emolduram também o cansaço, a desilusão e a falta de perspectivas dos cambojanos escravizados pelo regime. A técnica, entretanto, leva ao cansaço o expectador em alguns momentos, fazendo-o ressentir-se da ausência de um pouco mais de vibração.

É inevitável a comparação com outro filme, o clássico “Gritos do Silêncio”, de 1984. Tratando da mesma temática – a ditadura do Khmer Vermelho -, tem enfoque diverso. Nele a narrativa parte de personagem adulto e envolvido politicamente na trama. É também uma grande produção. Desnecessário estabelecermos critérios comparativos entre ambos. Ao contrário, são complementares a meu ver. Importante ressaltarmos, entretanto, que apresenta uma direção mais aguda, com cenas mais pungentes, duras e às vezes sangrentas. Como era de se esperar, tem um clímax, característica comum em dramas cinematográficos.


“First” é um filme que deve ser assistido por suas inúmeras qualidades, ainda que não possa ser considerado uma obra definitiva sobre o tema. Alguns críticos apostam nele com o vencedor do Oscar de filme estrangeiro em 2018. Tem grandes chances. Veja o trailer;

https://www.youtube.com/watch?v=uS3Vp_quGCw 

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