Falar a respeito de
temas que não estão inseridos em nosso universo profissional é algo prazeroso.
O descompromisso com o rigor técnico, a ausência do temor de alguma gafe ou o
deslizar de opiniões conflitantes com as de quem é do ramo dão à gente um
incontido prazer.
Não sou crítico de cinema e nem
possuo formação para tanto. Apenas um cinéfilo que hipoteca suas emoções e
algum feeling na apreciação das obras
consumidas com gulodice.
“O Filme da Minha Vida” deve agradar
qualquer um que esbanje sensibilidade e apreço à beleza. Pode ser também da
vida de expectadores que tenham na delicadeza um objeto de admiração.
“O Palhaço”, segunda obra do diretor
Selton Melo é um primor de delicadeza, espumando o belo em sua simplicidade, a
emoção contida nos limites perfeitos e a atmosfera de delicada singeleza. Tudo
isto com a leveza poeirenta das estradas de chão. As pitadas do humor às vezes
insólito - e também delicado – servem de válvula para conter o tom emocional
nos limites pretendidos. Uma obra prima.
Selton trouxe em “O Filme da Minha
Vida” algumas dessas características, adicionando uma belíssima fotografia e um
bom desempenho do elenco. Vincent Cassel, por exemplo, tem uma curta atuação, mas
que se confunde perfeitamente com o que se esperaria do personagem.
Não concordo, data venia, com a opinião de um renomado crítico de cinema segundo
a qual os personagens seriam arquetípicos, não conseguindo ultrapassar os
limites de símbolos já produzidos internacionalmente. O envolvimento entre a história, os personagens
e a primorosa trilha musical, tudo sob o glacê da direção precisa aponta apenas
para eventuais semelhanças, nada que comprometa o resultado final.
As locações, os
constantes closes e a cor também fazem da obra um momento maravilhoso de nosso
cinema que, há anos atrás não conseguia ultrapassar os limites da pornografia.
Gostei do filme e me
tornei fã do Selton, tão brilhante na direção como na atuação em “O Auto da
Compadecida”.
Também acho que
atingimos mais um patamar de qualidade, rigor técnico e expressividade na
sétima arte brasileira, o que cada vez mais me orgulha.
Assistam, prestigiem,
deleitem-se.
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