quinta-feira, 24 de maio de 2012

Dialética nossa de cada dia




Shakil Afridi é um nome que certamente passaria despercebido da grande mídia e talvez pudesse viver o resto de seus dias em paz. Tudo isto se não fosse a tal da dialética que nos força de vez em quando às confrontações e ao jogo de opostos tão típicos de nossa civilização. Isto sem nos esquecermos de suas consequências, tudo inserido no princípio hegeliano sempre atual.

É que o ilustre cidadão, médico militante, promoveu uma falsa campanha de vacinação contra a hepatite para colher material genético dos habitantes de uma determinada casa situada na cidade de Peshawar. Lá residia nada menos que Osama Bin Laden, o que restou comprovado pela análise do DNA colhido.

A partir da atuação do espião improvisado as forças militares americanas puderam invadir o local e eliminar seu arqui inimigo, sem que tivessem dúvidas de que o mesmo lá seria encontrado.

Em razão disto foi ele condenado a nada menos que 33 anos de prisão por haver cometido traição contra seu país.

Ocorre que o próprio Paquistão já havia anteriormente afirmado que o terrorista não estava em seu país e que se encontrava também dentre aquelas nações que tentavam sua captura.

Após a invasão norte americana o governo paquistanês não esboçou qualquer reação internacional (poderia ter protestado junto à ONU e até mesmo buscado reparação dos EUA), fazendo o mundo crer que autorizara a ação militar em seu solo.

Além de tudo isto, o planeta inteiro sabe que o Paquistão é beneficiário de ajuda americana da ordem de bilhões de dólares, não obstante mantenham eles relações bilaterais das mais tranquilas. 

Tem o país o trunfo de sua posição geopolítica, sendo caminho natural para transporte de tropas da Otan com destino ao Afeganistão, além de situar-se próximo ao Golfo Pérsico, ao Iran e à Índia, seu histórico inimigo e que sempre contou com a proteção dos EUA.

A confusão tem ainda um ingrediente literalmente explosivo: o mundo inteiro sabe que o Paquistão, apesar de não fazer parte do Clube Atômico, já possui sua bomba. Assim como a Índia - seu vizinho e rival - não assinou o Tratado de Não Proliferação e mantém-se como potencial ameaça à paz mundial, acompanhada pela Coréia do Norte, do Irã e de outros.

A situação é de pura dialética.

O imbróglio causado pela condenação do médico terá ainda como consequências os riscos que sua vida passa a correr a partir da divulgação, o acirramento da tensão entre EUA e Paquistão e o aumento da instabilidade na região. Marx, caso aqui pudesse estar, talvez esboçasse um sorriso irônico...

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