quinta-feira, 1 de abril de 2010

Em nome de Deus


Sílvio Lanna
A Igreja Católica vem sendo abalada nos últimos anos por reiteradas acusações de pedofilia e de agressões sexuais que teriam sido praticadas por padres em várias partes do mundo. A crise atingiu proporções alarmantes nos últimos dias, quando o próprio Santo Pontífice foi acusado de haver encoberto vários casos.
É emblemático o fato de que, quando de tais ocorrências, Joseph Ratzinger era justamente o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, órgão eclesiástico criado para, dentre outros, punir ou absolver membros da Igreja sob suspeita de haverem cometido irregularidades. Foi justamente nesta época que silenciou-se - segundo denúncia do The New York Times - com relação às acusações contra o padre Lawrence Murphy, que teria abusado sexualmente de mais de duzentas crianças que, além de vítimas inocentes, eram ainda deficientes auditivas.
O Papa é, no dizer da própria Igreja Católica, o "sucessor de Pedro", "a santidade em pessoa", "o interlocutor mais próximo de Deus". Comandando um império religioso que cuida, além da palavra de Deus, de imensa riqueza material e de milhares de sacerdotes e prelados espalhados por todo o planeta, o Papa necessida ser mais que liderança espiritual. É também administrador e juiz, devendo arcar com as responsabilidades inerentes a tais funções.
A existência de padres criminosos no seio da Igreja definitivamente não é responsabilidade de Bento XVI. Mas a apreciação de seus atos sob a luz do Direito Canônico, bem como a adoção de penalidades (se cabíveis) e, em seguida, sua entrega para a Justiça secular são, incontestavelmente, funções so Sumo Pontífice. Particularmente nos casos em questão, onde os atos alegadamente praticados ultrapassam todas as fronteiras da prática religiosa.
Não podemos ser benevolentes com as condutas de pedofilia e de agressões sexuais apontadas tantas vezes pela imprensa, equiparando seus praticantes a doentes comuns. Pedófilos são tumores putrefatos da sociedade, merecendo uma pena compatível com o horror que impuseram a suas vítimas inocentes.
Se esses criminosos repugnantes agiram com uso da coerção de suas vestes sacerdotais e com o beneplácito de superiores, todos os envolvidos estiveram a serviço de Satanás e também merecem destino compatível, jamais o simples perdão de Sua Santidade ou mero pedido protocolar de desculpas.
As consequências de seus atos não se limitam às sessões em que ocorreram ou às consequências físicas que deles derivaram. Acompanharão as vítimas no desenvolver de sua infância, de sua adolescência e alcançarão ainda sua idade adulta, imprimindo nelas cicatrizes indeléveis.
Por sua vez, os criminosos não podem sofrer somente as punições reservadas aos cidadãos comuns em casos similares, uma vez que os atos e palavras dos sacerdotes são (ou deveriam ser) expressões da Palavra. Por consequência, mais graves são seus atos, porque praticados hereticamente em nome de Deus.

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